EDUCAÇÃO INCLUSIVA X EDUCAÇÃO ESPECIAL

A resistência dos surdos à educação inclusiva e a defesa da escola especial contrapondo-se ao exposto na Portaria do MEC nº 555/2007, uma "Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva" deram a tônica ao evento realizado na Ordem dos Advogados do Brasil - Secção de São Paulo, no dia 13/2, um importante debate sobre a educação de pessoas com deficiência.
Foi promovido pela Comissão dos Direitos das Pessoas com Deficiência, deixando clara a posição antagônica de ambos: de um lado, a portaria defendendo a presença dos alunos com deficiência no ensino comum, com atenção às características individuais e apoio do ensino especial; e de outro, os representantes da comunidade surda defendendo a permanência das classes ou escolas exclusivas, fora do ensino comum. Contou com a participação de pessoas com reconhecida e longa atuação na área da deficiência: Neivaldo Zovico, Diretor Regional da Feneis/SP - Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos; Paulo Vieira, assessor da presidência da Associação dos Surdos-SP; Prof. Dra. Linamara Rizzo Battistella, médica fisiatra, Diretora Executiva da Divisão de Medicina de Reabilitação do HC FMUSP e professora do Departamento de Medicina Legal, Ética Médica, Medicina Social e do Trabalho da FMUSP; Dra. Maria Tereza Eglér Mantoan, pedagoga, especialista em educação de alunos com deficiência mental e doutora em Educação na área de Psicologia Educacional pela Unicamp-SP; e Dra. Eugênia Augusta Gonzaga Fávero, Procuradora da República junto ao Ministério Público Federal e mestre em Direito Constitucional.Dra. Mantoan, colaboradora do MEC neste trabalho, defendeu que "não é possível parar no tempo, é preciso avançar, reconhecendo o importante papel do ensino especial para a educação inclusiva". Ela deixa claro que o primeiro deve ser apenas uma modalidade da segunda. "É necessário que a educação especial esteja a serviço da educação inclusiva para garantir o direito às diferenças e combater a segregação".Dra. Linamara destacou que o termo "segregação" pode ser definido como "opressão" e o indivíduo deve ter preservado o seu direito à cidadania, que pode ser definido como sentimento de "pertencer", só desenvolvido quando assegurado o direito de escolha e do conhecimento. "Precisamos libertar o cidadão, pois este encontra na escola mais que uma instituição de ensino, um espaço de socialização, sua função por excelência", destacou.
Com seu conhecimento médico em desenvolvimento humano e reabilitação, acrescentou que a inclusão educacional necessariamente deve se dar na primeira infância, de 0 a sete anos. "Após isso será um arremedo de inclusão", frisou. Outro destaque importante foi sua constatação de que a educação especial é um paradoxo e não atingiu seu objetivo, pois se tivesse atingido não haveria hoje o cenário de segregação e exclusão de tantos adultos com deficiência. "Porém, a educação especial reúne metodologia e conhecimentos importantes para subsidiar a nova etapa que temos que experimentar e avançar: uma escola única, inclusiva, aberta a todos", ressaltou.

Para Dra. Eugênia Fávero, a legislação vigente é categórica: educação só por meio da educação inclusiva. "A Convenção da ONU pelos Direitos das Pessoas com Deficiência é clara: não há educação fora do sistema educacional inclusivo, garantidos apoios, adaptações e atendimentos especializados". Também destacou que o país se tornou bilíngüe, quando aprovou a lei nº 10.436, oficializando o uso da Libras - Língua Brasileira de Sinais - como uma segunda língua oficial. "Nenhum outro idioma foi oficializado em lei em nosso país", afirmou.
Apesar da apresentação dos benefícios e defesa da educação inclusiva, pelas doutoras, Neivaldo Zovico e Paulo Vieira, representantes da comunidade surda, destacaram que não há incentivo necessário para que crianças surdas detenham aprendizado no ensino comum e que o oralismo não deve ser imposto aos surdos, que devem ter suas especificidades respeitadas. Zovico destacou que, sendo professor de matemática, só enxergava possibilidades de ensino nas escolas especiais. Este argumento foi rebatido pela profª Mantoan que ressaltou faltarem professores em Libras nas diversas áreas do saber.
Ao final do evento, permaneceu a impressão de que os surdos querem ser reconhecidos e respeitados pela sua deficiência - a surdez - uma postura antagônica ao movimento da inclusão social que quer destacar o indivíduo, a pessoa, à frente de sua deficiência, qualquer que seja, e assegurar os mesmos espaços - educacionais, profissionais e sociais - a todas as pessoas, independentemente de sua condição física, intelectual, auditiva ou visual.
Maria Isabel da Silva - JornalistaCentro de Comunicação Institucional DMR HC FMUSP

A aprendizagem de ser Educador

Especialista em inovações na educação*
O educador é especialista em conhecimento, em aprendizagem. Como especialista, espera-se que ao longo dos anos aprenda a ser um profissional equilibrado, experiente, evoluído; que construa sua identidade pacientemente, integrando o intelectual, o emocional, o ético, o pedagógico.

O educador pode ser testemunha viva da aprendizagem contínua. Testemunho impresso nos seus gestos e personalidade de que evolui, aprende, se humaniza, se torna uma pessoa mais aberta, acolhedora, compreensiva.

Testemunha viva, também, das dificuldades de aprender, das dificuldades em mudar, das contradições no cotidiano; de aprender a compreender-se e a compreender.
Com o passar do tempo ele vai mostrando uma trajetória coerente, de avanços, de sensatez e firmeza. Passa por etapas em que se sente perdido, angustiado, fora de foco. Retoma o rumo, depois, revigorado, estimulado por novos desafios, pelo contato com seus alunos, pela vontade de continuar vivendo, aprendendo, realizando-se e frustrando-se, às vezes, mas mantendo o impulso de avançar.
Há momentos em que se sente perdido, desmotivado. Educar tem muito de rotina, de repetição, de decepção. É um campo cada vez mais tomado por investidores, por pessoas que buscam lucros fáceis. Ele se sente parte de uma máquina, de uma engrenagem que cresce desproporcionalmente. Sente-se, em alguns momentos, insignificante, impotente, um número que pode ser substituído por muitos colegas ansiosos por encontrar trabalho. Sabe que sua experiência é importante, mas também que a concorrência é grande e que há muita gente disposta a ensinar por salários menores.

Ensinar tem momentos “glamourosos”, em que os alunos participam, se envolvem, trazem contribuições significativas. Mas muitos outros momentos são banais; parece que nada acontece. É um entra e sai de rostos que se revezam no mesmo ritmo semanal de aula, exercícios, mais aulas, provas, correções, notas, novas aulas, novas atividades.... A rotina corrói uma parte do sonho, a engrenagem despersonaliza; a multiplicação de instituições escolares torna previsíveis as atividades profissionais. Há um aumento de oferta profissional (mais vagas para ser professor), junto com uma diminuição das exigências para a profissão (mais fácil ter diploma, muitos estudantes em fase final são contratados, aumenta a concorrência). A tentação da mediocridade é real. Basta ir tocando para ficar anos como docente, ganhar um salário seguro, razoável. Os anos vão passando e quando o professor percebe já está na fase madura e se tornou um docente acomodado.

As etapas de aprendizagem a ser docente

Apesar de que cada docente tem sua trajetória, há pontos da evolução profissional coincidentes. Relato a seguir uma síntese de questões que costumam acontecer – com muitas variáveis - na trajetória de muitos professores, a partir da minha observação e experiência.
A iniciação

Recém formado, o novo professor começa a ser chamado para substituir um colega em férias, uma professora em licença maternidade, dá algumas aulas no lugar de professores ausentes. Ele ainda se confunde com o aluno, intimamente se sente aluno, mas percebe que é visto pelos alunos como uma mistura de professor e aluno. Ele luta para se impor, para impressionar, para ser reconhecido. Prepara as aulas, traz atividades novas, se preocupa em cativar os alunos, em ser aceito. Sente medo de ser ridicularizado em público com alguma pergunta impertinente ou muito difícil. Tem medo dos que o desafiam, dos alunos que não ligam para as suas aulas, dos que ficam conversando o tempo todo. Procura ser inovador e, ao mesmo tempo, percebe que reproduz algumas técnicas de lecionar que vivenciou como aluno, algumas até criticadas. É uma etapa de aprendizagem, de insegurança, de entusiasmo e de muito medo de fracassar.

O tempo passa, os alunos vão embora, chegam outros em outro semestre e o processo recomeça. Agora já tem uma noção mais clara do que o espera; planeja com mais segurança o novo semestre, repete alguns “macetes” que deram certo até agora, busca alguns textos diferentes, inova um pouco, arrisca mais. Vê que algumas atividades funcionam sempre e outras não tanto.
Descobre que cada turma tem comportamentos semelhantes, mas que reage de forma diferente às mesmas propostas e assim vai, por tentativa e erro, aprendendo a diversificar, a desenvolver um “feeling” de como está cada classe, de quando vale a pena insistir na aula teórica planejada e quando tem que introduzir uma nova dinâmica, contar uma história, passar um vídeo, encurtar o fim da aula, etc.
A consolidação
De semestre em semestre o jovem professor vá consolidando o seu jeito de ensinar, de lidar com os alunos, as áreas de atuação. Consegue ter maior domínio de todo o processo. Isso lhe dá segurança, tranqüilidade. Os colegas e coordenadores vão indicando-o para novas turmas, novas disciplinas, novas instituições. Multiplica o número de aulas. Aumenta o número de alunos. É freqüente, no ensino superior particular, um professor ter entre mais de quinhentos alunos por semana. Forma uma família. Vira um “tocador” de aulas. Cada vez precisa aumentar mais o número de aulas, para manter a renda.

Desenvolve algumas fórmulas para se poupar. Repete o mesmo texto em várias turmas e, às vezes, em várias disciplinas. Utiliza um mesmo vídeo para diversos temas. Dá trabalhos bem parecidos para turmas diferentes, em grupo. Lê cada vez mais rapidamente os trabalhos e as provas. Faz comentários genéricos: Continue assim, “insuficiente”, “esforce-se mais”, “parabéns”, “interessante”. Prepara as aulas encima da hora, com poucas mudanças. Repete fórmulas, métodos, técnicas aprendidos por longo tempo.
Crises de identidade
Sempre há alguma crise, mas esta é diferente: pega o professor de cheio. Aos poucos o dar aula se torna cansativo, repetitivo, insuportável. Parece que alguns coordenadores são mais “chatos”, “pegam mais no pé”. Algumas turmas de alunos também “não querem nada com nada”. As reuniões de professores são todas iguais, pura perda de tempo. Os salários são baixos. Outros colegas mostram que ganham mais em outras profissões. Renova-se a dúvida: vale a pena ficar como está ou dar uma guinada profissional?
Por enquanto “vai tocando”. Torce para que haja muitos feriados, para que os alunos não venham em determinados dias. Qualquer motivo justifica não dar aula. Cria muitas atividades durante a aula: leituras em grupo, pesquisa na biblioteca, na Internet, vídeos longos e isso lhe permite descansar um pouco, ficar na sala dos professores, poupar a voz.
Muitas vezes essa crise profissional vem acompanhada de uma crise afetiva. Sente-se intimamente bastante só, apesar das aparências. E em algum momento a crise bate mais fundo: “o que é que eu faço aqui?” “Qual é o sentido da minha vida?” Tem tanta gente que sabe menos e está melhor! Como defender uma sociedade mais justa num país onde só os mesmos ficam mais e mais ricos?
Olha para trás e vê muitos recém formados ansiosos para entrar de qualquer jeito, ganhando menos do que ele. E esses jovens “petulantes” têm outra linguagem, dominam mais a Internet, estão cheios de idéias. Embora faça cursos de atualização, sente-se em muitos pontos ultrapassado. Sempre foi preparado para dar respostas, para ser o centro do saber e agora descobre que não tem certezas, que cada vez sabe menos, que há muitas variáveis para uma mesma questão e que novas pesquisas questionam verdades que pareciam definitivas. Essa sensação de estar fora do lugar, de inadequação vai aumentando e um dia explode. A crise se generaliza. Nada faz sentido. A depressão toma conta dele. Não tem mais vontade de levantar, chega atrasado. Justifica cada vez mais suas faltas.
Mudanças
Diante das crises, alguns professores desistem, entregam a toalha. Procuram algumas saídas, fugas e terminam se acalmando e acomodando. Tornam-se previsíveis, repetitivos. Outros, diante da insatisfação, procuram uma nova atividade profissional mais empolgante e deixam as aulas como complemento, como “bico”.
E encontramos os que nas crises procuram refletir sobre sua vida profissional e pessoal. Tentam encontrar caminhos, reaprender a aprender. Atualizam-se, observam mais, conversam, meditam. Aos poucos buscam uma nova síntese, um novo foco. Começam pelo externo, por estabelecer um relacionamento melhor com os alunos, procuram escutá-los mais. Preparam melhor as aulas, utilizam novas dinâmicas, novas tecnologias. Lêem novos autores, abrem novos horizontes. Refletem mais, ouvem mais. Descobrem que precisam aceitar-se melhor, ser mais humildes e confiantes. E assim, pouco a pouco, redescobrem o prazer de ler, de aprender, de ensinar, de viver. Estão mais atentos ao que acontece ao seu lado e dentro de si. Procuram simplificar a vida, consumir menos, relaxar mais. Vêem exemplos de pessoas que envelhecem motivados para aprender e isso lhes dá estímulo para seguir adiante, para renovar-se todos os dias. Tornam-se mais humanos, acolhedores, compreensivos, tolerantes, abertos. Dialogam mais, ouvem mais, prestam mais atenção. Com o assar do tempo percebem que, apesar das contradições, evoluíram muito e redescobriram o prazer de ensinar e de viver. “Sinto-me como alguém que envelhece crescendo”[1][1]. Esta é a atitude maravilhosa de quem gosta de aprender. O aprender dá sentido à vida, a todos os momentos da vida, mesmo quando ela está no fim.
Tem professores que se burocratizam na profissão. Outros se renovam com o tempo, se tornam pessoas mais humanas, ricas e abertas. As chances são as mesmas, os cursos feitos, os mesmos; os alunos, também são iguais. A diferença é que uma parte muda de verdade, busca novos caminhos e a outra se acomoda na mediocridade, se esconde nos ritos repetidos. Muitos professores se arrastam pelas salas de aula, enquanto outros, nas mesmas circunstâncias, encontram forças para continuar, para melhorar, para realizar-se.
O educador bem sucedido

Por que, nas mesmas escolas, nas mesmas condições, com a mesma formação e os mesmos salários, uns professores são bem aceitos, conseguem atrair os alunos e realizar um bom trabalho profissional e outros, não?
Não há uma única forma ou modelo. Depende muito da personalidade, competência, facilidade de aproximar e gerenciar pessoas e situações. Uma das questões que determina o sucesso profissional maior ou menor do educador é a capacidade de relacionar-se, de comunicar-se, de motivar o aluno de forma constante e competente. Alguns professores conseguem uma mobilização afetiva dos alunos pelo seu magnetismo, simpatia, capacidade de sinergia, de estabelecer um “rapport”, uma sintonia interpessoal grande. É uma qualidade que pode ser desenvolvida, mas alguns a possuem em grau superlativo, a exercem intuitivamente, o que facilita o trabalho pedagógico.

Uma das formas de estabelecer vínculos é mostrar genuíno interesse pelos alunos. Os professores de sucesso não se preparam para o fracasso, mas para o sucesso nos seus cursos. Preparam-se para desenvolver um bom relacionamento com os alunos e para isso os aceitam afetivamente antes de os conhecerem, se predispõem a gostar deles antes de começar um novo curso. Essa atitude positiva é captada consciente e inconscientemente pelos alunos que reagem da mesma forma, dando-lhes crédito, confiança, expectativas otimistas. O contrário também acontece: professores que se preparam para a aula prevendo conflitos, que estão cansados da rotina, passam consciente e inconscientemente esse mal-estar que é correspondido com a desconfiança dos alunos, com o distanciamento, com barreiras nas expectativas.
É muito tênue o que fazemos em aula para facilitar a aceitação ou provocar a rejeição. É um conjunto de intenções, gestos, palavras, ações que são traduzidos pelos alunos como positivos ou negativos, que facilitam a interação, o desejo de participar de um processo grupal de aprendizagem, de uma aventura pedagógica (desejo de aprender) ou, pelo contrário, levantam barreiras, desconfianças, que desmobilizam.
O sucesso pedagógico depende também da capacidade de expressar competência intelectual, de mostrar que conhecemos de forma pessoal determinadas áreas do saber, que as relacionamos com os interesses dos alunos, que podemos aproximar a teoria da prática e a vivência da reflexão teórica.
A coerência entre o que o professor fala e o que faz, na vida é um fator importante para o sucesso pedagógico. Se um professor une a competência intelectual, a emocional e a ética causa um profundo impacto nos alunos. Estes estão muito atentos à pessoa do professor, não somente ao que fala. A pessoa fala mais que as palavras. A junção da fala competente com a pessoa coerente é poderosa didaticamente.
As técnicas de comunicação também são importantes para o sucesso do professor. Um professor que fala bem, que conta histórias interessantes, que tem feeling para sentir o estado de ânimo da classe, que se adapta às circunstâncias, que sabe jogar com as metáforas, o humor, que usa as tecnologias adequadamente, sem dúvida consegue bons resultados com os alunos. Os alunos gostam de um professor que os surpreenda, que traga novidades, que varie suas técnicas e métodos de organizar o processo de ensino-aprendizagem.
Ensinar sempre será complicado pela distância profunda que existe entre adultos e jovens. Por outro lado, essa distância nos torna interessantes, justamente porque somos diferentes. Podemos aproveitar a curiosidade que suscita encontrar uma pessoa com mais experiência, realizações e fracassos. Um dos caminhos de aproximação ao aluno é pela comunicação pessoal de vivências, histórias, situações que o aluno ainda não conhece em profundidade. Outro é o da comunicação afetiva, da aproximação pelo gostar, pela aceitação do outro como ele é e encontrar o que nos une, o que nos identifica, o que temos em comum.
Um professor que se mostra competente e humano, afetivo, compreensivo atrai os alunos. Não é a tecnologia que resolve esse distanciamento, mas pode ser um caminho para a aproximação mais rápida: valorizar a rapidez, a facilidade com que crianças e jovens se expressam tecnologicamente ajuda a motivar os alunos, a que queiram se envolver mais. Podemos aproximar nossa linguagem da deles, mas sempre será muito diferente. O que facilita são as entrelinhas da comunicação lingüística: a entonação, os gestos aproximadores, a gestão de processos de participação e acolhimento, dentro dos limites sociais e acadêmicos possíveis.
O educador não precisa ser “perfeito” para ser um bom profissional. Fará um grande trabalho na medida em que se apresente da forma mais próxima ao que ele é naquele momento, que se “revele” sem máscaras, jogos. Quando se mostre como alguém que está atento a evoluir, a aprender, a ensinar e a aprender. O bom educador é um otimista, sem ser “ingênuo”. Consegue “despertar”, estimular, incentivar as melhores qualidades de cada pessoa.
* Texto que faz parte do meu livro A educação que desejamos (Papirus, 2007, no prelo). [1][1] Carl ROGERS. Um jeito de ser, p. 33.

Pensamento do dia

" SÓ É POSSÍVEL ENSINAR UMA CRIANÇA, AMANDO-A" Johann Goethe

Pensamentos...

" Se não morre aquele que escreve um livro ou planta uma árvore, com mais razão, não morre o educador, que semeia vida e escreve na alma"Jean Piaget"Mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende".(Guimarães Rosa)

"Assim como uma única isca não pode atrair qualquer tipo de peixe, uma metodologia única não é capaz de alcançar diferentes tipos de alunos."( Monica Valéria ,minha amiga)

" O vento é o mesmo mas sua resposta é diferente em cada folha"Cecília Meireles

“Contaram-me e Esqueci Vi e Entendi Fiz e Aprendi”Confúcio

Quem pensa muito faz pouco. As pessoas entram em nossa vida por acaso, mas não é por acaso que elas permanecem.(Lilian Tonet)...

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer...Não tenho um caminho novo. O que eu tenho de novo é um jeito de caminhar. (Thiago de Melo)

O melhor educador é aquele que conseguiu educar a si mesmo(Sabedoria oriental)

"Quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, mas as idéias."Victor Hugo

"Eduquem os meninos e não será necessário castigar os homens"(Pitágoras)

“Um livro é como uma janela: quem não o lê fica distante dela e só pode ver uma pequena parte da paisagem."(Kahlil Gibran, escritor indiano)

"Não se pode ensinar nada a um homem. Pode-se apenas ajudá-lo a encontrar a resposta dentro dele mesmo."(Galileu Galieli, cientista italiano)

"A tarefa essencial do professor é despertar a alegria de trabalhar e de conhecer."(Albert Eisntein, cientista alemão, Como Vejo o Mundo)

"Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre."(Paulo Freire, educador brasileiro)

"Perigoso não é o homem que lê, é o que relê."(Voltaire, filósofo francês)

"Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina."(Cora Coralina, poetisa brasileira)

"Ser educador é ser um poeta do amor. Educar é acreditar na vida e ter esperança no futuro. Educar é semear com sabedoria e colher com paciência."Augusto Cury

“Longo é o caminho do ensino por meio de teorias; breve e eficaz por meio de exemplos.” (Sêneca, filósofo romano - Epístolas )

"Não concordo com uma única palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las"(Voltaire)

"Procure ser um homem de valor, em vez de procurar ser um homem de sucesso."(Albert Einstein)

"Tratai os bons com bondade e os maus com justiça"(Confúcio)

"Educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo ...".Paulo Freire

"Carpe Diem" quer dizer "colha o dia". Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. A vida não pode ser economizada para amanhã.(Rubem Alves)

ENSINAR O QUE JAMAIS SE ENSINA

Celso Antunes*
Imagine que você está sentado calmamente em um lugar público, que ao seu lado existem diferentes pessoas, jovens e velhas, obesas e magras, calmas e agitadas, e que um imprevisto impõe a todos a necessidade premente de sair correndo. Será que alguém argumentaria que não sabe correr? Informaria ao vizinho atônito que tem pernas e músculos em ordem, mas não pode sair correndo porque jamais aprendeu? Isso é possível? Claro que não. Todas as pessoas “sabem” correr e, gostando ou não disso, sairão correndo se for necessário. Correr, assim como andar, falar, respirar, comer ou beber, constitui uma ação do cotidiano que ‘não se aprende de forma específica’ com um professor previamente preparado. Se indagarmos a essas pessoas como aprenderam a fazer isso, certamente nos responderão que “aprenderam aprendendo”, afinal a vida “nos ensina uma porção de coisas” e, sem mais papo, encerrarão o assunto.
Entretanto, não vamos encerrar este artigo assim tão depressa e, por esse motivo, insistimos e indagamos: será que uma pessoa que “sabe correr” não teria “coisas” a aprender sobre isso? Não é possível aprender a “correr melhor”? Será que um professor de Educação Física ou um especialista em treinamento, olhando uma pessoa correndo, nada teria a lhe ensinar? Será que a postura usada na corrida está correta? Será que a pessoa sabe dar a passada de maneira a aproveitar o potencial dos seus músculos?
O que deve colocar antes no chão, a ponta dos pés ou o calcanhar? O corredor eventual sabe respirar durante a corrida? Respira-se pela boca, pelo nariz ou alternando-se os dois?Não é difícil saber aonde se pretende chegar com essas considerações. Muito do que não se ensina hoje e, mesmo assim se aprende, seria mais bem aprendido se fosse devidamente ensinado por um profissional atento, observador e, sobretudo, eficiente e competente. Chega-se, assim, a questões cruciais da educabilidade humana, sobretudo na infância.
Quanto se investe para ensinar uma criança a falar? E para descobrir o sentido das palavras e a expressão dos conceitos? Com que idade desenvolvemos sua sensibili­dade tátil, ensinando-lhe a ler em braile? Existe um programa para ensinar os pequenos a pensar? E a atenção deles, de que maneira é trabalhada? Como podemos educar as memórias e, devagarinho, treiná-las para que se tornem mais abrangentes, como mais fortes se tornam os músculos que, pouco a pouco, vão sendo treinados? Qual a melhor idade para se ensinar a beleza? Beleza não se ensina?
Se fosse possível acreditar nessa tolice, seríamos capazes de imaginar que o olhar de Picasso, de Monet e de Portinari seria igual ao nosso e que, portanto, a arte é uma mentira, uma convenção, uma simplória ilusão. A beleza se ensina, como se ensinam bondade, justiça, verdade etc. É possível treinar o pensamento, as memórias e a atenção da mesma maneira que se treina a criatividade e a sensibilidade para diferenciar o simples “olhar” do abrangente “ver”. Ensinar não é apenas transformar informações em conhecimento, mas aguçar a sensibilidade para o som, a acuidade para o tato e libertar o olfato.
Quanto tempo seus professores gastaram para educar seus sentimentos, ensinando-o a perguntar, responder, investigar, procurar encantamento, decodificar símbolos, fazer amigos, solidificar relações, identificar o espanto, libertar os movimentos, compreender o imenso significado da carícia, suplantar os estreitos limites do conhecimento, acordando toda a onisciência que dorme dentro de você?
Provavelmente, tempo nenhum. Você nasceu numa época em que não se ensinavam essas “coisas”, posto que a própria vida o faria. Lamente esses tempos e crie novos. Não deixe de levar a seus alunos o que, por desconhecimento ou descaso, na vida lhe faltou. Ninguém precisa nos ensinar a correr, mas alguém com essa meta por certo vai nos levar aonde sozinhos jamais chegaríamos.
*Celso Antunes é bacharel e licenciado em Geografia pela Universidade de São Paulo; Especialista em Inteligência e Cognição; Mestre em Ciências Humanas; autor de mais de 180 livros; e consultor de revistas especializadas em Ensino e Aprendizagem.
E-mail: celso@celsoantunes.com.brSite: www.celsoantunes.com.br

ENSINAR BEM É... SABER LIDAR COM A DIVERSIDADE

Revista Nova Escola edição 164 - ago/2003

Na mesma proporcão em que, felizmente, aumenta o acesso das crianças brasileiras à escola, cresce a diversidade nas salas de aula. Uma turma pode reunir crianças de diferentes classes, regiões, culturas, crenças. Elas respondem de modos distintos a conteúdos, objetivos e exigências — planejados para serem iguais para todos. O desafio, portanto, é não mascarar essas diferenças, mas valer-se delas para enriquecer o aprendizado e a vivência do grupo. A diversidade entre os indivíduos é uma condição da natureza humana e está sempre presente em qualquer abordagem pedagógica. Isso não significa que lidar com ela seja simples. "Ainda estamos aprendendo a conviver com a diversidade", diz Roseli Fischmann, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo. Segundo ela, o caminho é "refletir em grupo, partilhar, buscar se compreender". O que você deve ter em mente é encontrar um equilíbrio entre objetivos comuns e necessidades pessoais de cada estudante.A busca desse equilíbrio não é fácil. Primeiramente é preciso saber até que ponto todos os envolvidos, da equipe escolar aos pais de alunos, estão de acordo em aceitar que cada aluno tem direito a um ensino adaptado, na maior medida possível, a suas possibilidades e limitações.Nem toda diversidade, no entanto, significa desigualdade. É o caso das diversidades culturais, de aptidões específicas etc. Esses são aspectos individuais que enriquecem a convivência coletiva. A você cabe ter sensibilidade para detectá-las e lidar com elas sem transformá-las em estigmas. "Trabalhar com a diversidade é normal; querer fomentá-la é discutível; regular toda a variabilidade nos indivíduos é perigoso", escreve o educador espanhol José Gimeno Sacristán.

Currículo e avaliação flexíveis

Quando as respostas da turma são desiguais em relação aos padrões de aprendizagem exigidos, é recomendável, além da revisão dos métodos de avaliação, adotar currículos flexíveis. Para isso é preciso definir claramente o que deve ser comum a todos os alunos e quais podem ser os conteúdos diferenciados. Finalmente, cabe a você cultivar conceitos como flexibilidade e tolerância. Eles são pré-requisitos para a boa convivência e a adaptação de pessoas diferentes a ambientes e objetivos comuns. "O mais importante é não ficar no discurso, mas adotá-lo na prática", diz a educadora Roseli Fischmann. Para lidar com a diversidade é essencial: definir o que é comum a todos e o que é particular em cada aluno;

criar diferentes ambientes de aprendizagem;

conhecer as particularidades dos alunos para estimular o interesse de cada um;

diversificar o material didático;

acompanhar a aprendizagem de cada estudante;

trocar informações e opiniões com outros professores;

não tentar mascarar nem destacar em excesso as diferenças dentro da turma.